terça-feira, 15 de setembro de 2009

MEMORIAL SOBRE A LEITURA


Minha familiaridade com a leitura deu-se muito cedo, embora com algumas concepções pouco fundadas. Sendo filha de uma alfabetizadora, fui estimulada às letras até mesmo antes de ingressar na escola. MInha mãe só nos matriculava a partir da alfabetização, uma vez que ela se incumbia, em casa, de nos ensinar as coordenações motoras e as letras, ou pseudo-letras... Ingressei na alfabetização, que pela época, revestia-se de um ensino bastante tecnicista, baseado em artifícios memorísticos e textos coreográficos munidos de excessivas repetições fonético-fonológicas, cujo objetivo era focar os sons e sua relação com a representação escrita. O método de alfabetização que me formou explorava mais a competência do que o desempenho linguístico, dicotomia muito bem explicada por Chomsky. O ensino pautava-se mais no aspecto da apropriação do código, do que na compreensão leitora. Infelizmente, não foi a escola que me serviu de mola propulsora para a leitura.
Embora tivesse em casa acesso aos gibis, os quais eram minha leitura predileta, a igreja foi que me serviu de trampolim. Comecei a frequentar a escola bíblica aos 5 anos de idade, o que me levou a ler a bíblia para responder as revistinhas que ganhávamos. Aos 10 anos já tinha lido todo o Novo Testamento, tal estudo me fez amadurecer como leitora porque tínhamos que entender as metáforas dos sermões proferidos por Jesus e pelos posteriores apóstolos e discípulos, compreender as similaridades e diversidades culturais entre nós e os povos descritos na bíblia; enfim, há uma imensidão de riqueza que subjaz a leitura bíblica. Além do livro sagrado, também li vários livros de pastores que abordavam temas polêmicos e esclareciam enunciados pouco elucidativos de passagens bíblicas. A partir daí, tive noções mais claras do que fosse um texto, contexto e pretexto. Apesar de as leituras eclesiásticas representarem maioria no meu acervo, também me interessavam outras de cunho histórico, como por exemplo: O diário de Anne Frank. Este livro marcou minha trajetória leitora, pois aguçou ainda mais minha sensibilidade para com as vítimas de uma guerra. Hoje, apesar das limitações, a escola ainda representa uma grande agência de letramento. Peca-se ao perder o caráter interlocutório desta atividade, reduzindo-a, muitas vezes, a uma atividade punitiva. É preciso estabelecer objetivos muito claros a respeito do que se pretende atingir com as leituras e seus múltiplos papéis na formação do ser social, de modo que ele possa interagir de forma ativa e efetiva nas diversas esferas em que se inserir.

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